A colposcopia visa comprovar ou excluir a presença de uma lesão pré maligna ou câncer em mulheres com algum exame de rastreamento do câncer do colo do útero alterado. Também permite avaliar a extensão e localização das lesões, para planejamento do tratamento, e a realização de biópsias dirigidas ao locais mais alterados.
O rastreamento do câncer do colo do útero é, tradicionalmente, realizado com exame preventivo (Papanicolaou, citopatológico, colpocitologia, exame de lâmina), mas a colposcopia também está indicada quando o teste de rastreamento é um exame molecular que mostra a presença de HPV oncogênico. O uso de testes de HPV no rastreamento do câncer do colo do útero é recomendado apenas a partir dos 30 anos.
No caso do rastreamento do câncer do colo do útero com o exame citopatológico, a recomendação atual do Ministério da Saúde/Instituto Nacional de Câncer - INCA (Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do útero) é de que a colposcopia é recomendável em seguida a um preventivo mostrando lesão de alto grau, atipias de significado indeterminado em células escamosas não se podendo afastar lesão de alto grau (ASC-H, do equivalente em inglês), atipias de significado indeterminado em células glandulares ou câncer.
Quando a conclusão é de lesão de baixo grau (LSIL), atipias de significado indeterminado em células escamosas possivelmente não neoplásicas (ASC-US, do equivalente em inglês) ou atipias de significado indeterminado em células escamosas sem especificação (ASCUS, do equivalente em inglês), a recomendação é de que o preventivo seja repetido em 6 a 12 meses, dependendo da idade, e, caso o resultado se repita ou piore, a paciente deve ser encaminhada para realização da colposcopia. Nessas situações, também existe a alternativa de fazer um teste de HPV: caso presentes tipos relacionados a câncer, a mulher pode realizar logo a colposcopia para esclarecer se há uma lesão pré-maligna.
Alguns médicos costumam encaminhar para colposcopia todas as pacientes com ASC-US/LSIL. Esta conduta tem a vantagem de logo concluir o diagnóstico, possibilitando a adoção de um tratamento, se for necessário, e reduzindo a ansiedade da espera. Apesar de, nesta conduta, serem feitos mais exames, alguns diagnósticos importantes não são deixados para depois e evitam a perda de seguimento (situação em que a paciente deixa de fazer o preventivo alguns meses depois e pode perder a oportunidade de fazer o diagnóstico e tratar alguma lesão mais relevante no tempo adequado). Também tranquiliza, nos casos em que concluímos que não há uma lesão maligna ou pré maligna, mas muitas vezes não há doença e a colposcopia pode ter sido desnecessária. A conduta de indicar a colposcopia logo após o primeiro preventivo alterado ou postergar e somente indicar a colposcopia após um segundo exame alterado com intervalo mínimo de seis meses são defensáveis e devem ser indicadas conforme as expectativas de cada paciente numa base individual. Converse com seu médico assistente.
Uma importante exceção é para as jovens até 24 anos com uma dessas alterações menos relevantes (lesão de baixo grau ou ASC-US). Nessas mulheres, o recomendado é repetir o preventivo em três anos até completar 25 anos. O objetivo é retardar seu encaminhamento para colposcopia e procedimentos denecessários, já que é extremamente improvável que tenham alguma lesão relevante.
As recomendações do Ministério da Saúde de postergar o encaminhamento de mulheres com resultados de lesão de baixo grau ou ASC-US, também têm importantes vantagens: na maioria dessas mulheres há uma lesão de baixo grau, alterações subclínicas pelo HPV (que tendem a regredir mesmo sem tratamento), ou nenhuma alteração. Ao deixar de encaminhar para colposcopia, o médico assistente evita exames desnecessários. Também permite que os serviços de colposcopia estejam mais disponíveis para receber mulheres com maior probabilidade de ter lesões de alto grau, atendendo-as mais rapidamente.
Já em situações em que a imunidade está seriamente comprometida, como pacientes infectadas pelo HIV ou em uso de imunossupressores (p.ex.: transplantadas, portadoras de doenças autoimunes), as lesões pré-malignas são mais frequentes. Nesta situação, a colposcopia estará indicada sempre que houver qualquer alteração não inflamatória do colo uterino.
No caso do rastreamento do câncer do colo do útero com um exame molecular (um teste de HPV), na presença de tipos oncogênicos (na captura híbrida) ou 16-18 (na genotipagem), a colposcopia estará bem indicada. Já quando presentes outros tipos oncogênicos do HPV que não os 16-18, a mulher deve realizar um exame citopatológico e ser encaminhada para colposcopia apenas se esse novo exame também se mostrar alterado.
Alguns médicos também indicam a colposcopia para uma variedade de alterações independente do resultado do preventivo: na pesença de lesões visíveis a olho nu, pólipos, etc., ou, ainda, no seguimento após tratamento de lesões pré-malignas.
Não há indicação para a colposcopia para pesquisa de lesões relacionadas ao HPV sem que o preventivo ou o exame ginecológico esteja alterado.
(atualizado em 29/12/2021)